Em cartaz – A Mulher de Preto
Nada, porém, resolve o problema básico: Daniel é novo demais para fazer o personagem. Em momento nenhum consegue fazer esquecer que não tem porte, tipo, experiência ou cara para viver um homem viúvo com um filho de uns cinco anos. Ainda mais com problemas para manter o emprego em uma firma de advocacia. Bem que poderiam ter ajustado a história para ele, mudando alguma coisa. Mas, do jeito que ficou, dá a impressão de o ator estar numa montagem de teatro de escola, sempre com a mesma expressão de olhos arregalados, sem qualquer variação ou direção. Ao menos um certo pavor, medo ou susto ele podia registrar. Mas nada disso.
Apesar disso, o filme é uma história de fantasma daquelas bem tradicionais, à moda inglesa, mais explícita do que em Os Inocentes. Aqui não há apenas um fantasma, mas vários e a trama é bem amarrada, começando pela casa mal assombrada que fica numa ilha no meio de um pântano (tem uma estrada de terra que chega até lá, mas é coberta de tempos em tempos pela maré, deixando-a isolada com frequência). Na história, Daniel vai para o interior recolher papéis nesta casa mas já é muito mal recebido pela população que o rejeita e trata mal (quando a lógica seria lhe explicar tudo, mas então não teríamos o suspense). Com a ajuda de um homem rico (Ciaran Hinds) e sua mulher tresloucada (a ótima Janet McTeer, de Albert Nobbs) – eles perderam um filho – aos poucos o herói vai descobrindo que uma senhora viveu na mansão. Ela se vestia sempre de negro e agora aparece na janela, no cemitério e assim por diante. O moço tem a capacidade de ver o fantasma sem saber que isso representa mais mortes e tragédias.
Não é bom contar muito mais, mas o filme é bem eficiente, com vários sustos e bastante interessante. Tem uma direção de arte curiosa, com brinquedos de corda antigos e autênticos. O longa não tem apelações e sua conclusão é um pouco diferente daquilo que se costuma esperar. Uma pena que Daniel não tenha conseguido encontrar o tom, porque o filme é correto, não está indo mal de bilheteria nos Estados Unidos e pode ter seu público.
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