sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Em A Mulher de Preto (The Woman in Black), Daniel Radcliffe  faz o jovem advogado e pai viúvo Arthur Kipps, cujo emprego está por um fio desde que a morte de sua esposa o desestabilizou emocionalmente. Ele precisa viajar para um fim-de-mundo no interior da Inglaterra para cuidar dos papéis de um cliente recém-falecido, dono de uma mansão. A mulher de preto do título é o espírito maligno que Kipps encontra no vasto terreno, ora abandonado.


Dos longas que a Hammer Films - produtora britânica conhecida por seus terrores góticos na metade do século 20 - realizou desde que voltou sob nova direção em 2008, como Deixe-me Entrar e A Inquilina, A Mulher de Preto  é o que mais se aproxima da estética e dos temas consagrados da Hammer. Talvez venha daí a impressão de que seja um filme à moda antiga, preocupado não só com a direção de arte sinistra e com sustos de vultos, mas principalmente com a atmosfera.


Há poucos lugares mais propícios a um terror gótico do que o interior e o litoral da Inglaterra. Cotterstock Hall, a casa onde o filme se passa, que fica em Oundle, Northamptonshire, foi construída em 1658 e não parece ter mudado muito ao longo desses séculos - e o mesmo vale para os arredores. A Mulher de Preto se passa na era eduardiana, nos anos 1900, mas a produção deve ter mexido pouco na paisagem para recriar esse cenário de época.


Outra constante desse tipo de filme é o choque de comportamento; o protagonista quase sempre é da cidade grande - no caso de Arthur Kipps, Londres - e, por extensão, olha com ceticismo para as crendices místicas da "gente do campo". Não é difícil antever que A Mulher de Preto seguirá o receituário clássico, com Arthur Kipps tendo a lógica como única arma contra o inexplicável.


O diretor James Watkins faz um trabalho decente ao contextualizar A Mulher de Preto dentro dessa linhagem do terror, que tem na melancolia dos personagens o seu traço mais marcante. Os terrores góticos em geral, e os da Hammer em particular, não encaram o sobrenatural com surpresa, mas com resignação - como se questionar o destino, por pior que ele seja, fosse tão absurdo quanto questionar os direitos da realeza.


No fundo, embora exista esse aparente comodismo, é o rancor contra a aristocracia que move o subgênero. Não por acaso a Hammer prosperou com o terror gótico na Inglaterra pobre do pós-guerra, e não por acaso os "heróis" do gênero são esses eficientes burocratas que questionam posse e propriedade. É como se uma maldição à altura de sua ostentação fosse o castigo merecido dos ricos.


A maior qualidade de A Mulher de Preto - um filme de direção meio frouxa, com um Daniel Radcliffe esforçado - é perceber e retransmitir essa melancolia e esse rancor que surgem com a estagnação social.

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